Moss: token verde que custou R$ 100 agora vale centavos
Nos últimos anos, a Moss ganhou destaque como uma startup promissora, unindo o conceito de sustentabilidade com a tecnologia do blockchain. Com seu token, o MCO2, a empresa buscava facilitar a compensação de emissões de carbono, um tema que está cada vez mais em pauta entre organizações que querem melhorar sua pegada ambiental.
O projeto parecia ter tudo para decolar. O token chegou a valer mais de R$ 100, a Moss se tornou patrocinadora do Flamengo e fez parcerias com grandes nomes, como a Gol e o C6 Bank. A atenção da mídia internacional se voltou para a companhia. Mas, ao invés de uma trajetória de crescimento contínuo, o que se viu foi uma queda abrupta de valor e o silêncio da empresa.
Lançado em 2020, o MCO2 representava créditos de carbono, que são certificados mostrando que uma tonelada de CO₂ deixou de ser liberada na atmosfera. A ideia da Moss era tornar esses créditos digitais, permitindo que qualquer pessoa ou empresa pudesse comprá-los com facilidade através do Ethereum. Aqui, o MCO2 não era uma criptomoeda tradicional, mas um “ativo do mundo real”, ligado a ações concretas em prol do meio ambiente.
Essa proposta ganhou força em um contexto em que o mercado voluntário de carbono estava em alta, oferecendo uma oportunidade para empresas compensarem suas emissões ao apoiar projetos de preservação, especialmente na Amazônia. A Moss se destacou, prometendo rastreabilidade e um impacto ambiental positivo.
Em 2021, a parceria com o Flamengo foi um grande marco: a empresa investiu cerca de R$ 3,5 milhões para neutralizar as emissões de carbono do time, tornando-o o primeiro clube do mundo a ser considerado carbono neutro. O nome da Moss estava em todos os lugares, dos meiões dos jogadores ao ônibus do clube. Contudo, a relação entre a marca e o time enfrentou desafios, especialmente quando um jogador decidiu jogar com as meias abaixadas, ocultando o patrocinador, o que gerou uma crise de imagem. Mesmo assim, a parceria continuou até o fim do contrato.
Outro destaque foi a colaboração com a Gol, que oferecia aos clientes a chance de compensar as emissões de suas viagens comprando créditos na plataforma da Moss. Os passageiros poderiam optar por neutralizar sua pegada de carbono e recebiam um certificado em retorno.
Mudanças no horizonte
Mas em 2022, as coisas começaram a mudar drasticamente. O preço do MCO2 despencou. Depois de chegar a R$ 118,40 em janeiro, hoje o token vale apenas cerca de R$ 0,80. As parcerias desapareceram, e a empresa começou a ser menos mencionada na mídia.
Guilherme Rossetto, o atual CEO da Moss, aponta a retração do mercado voluntário de carbono como a principal causa dessa queda. Segundo ele, “a desvalorização do MCO2 reflete a redução na demanda, questionamentos sobre as metodologias de certificação e incertezas regulatórias”.
Os dados corroboram essa situação. Informações da Systemica revelaram uma redução de 27% na emissão de novos créditos de carbono no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o ano anterior. Antes da crise que começou em 2022, os preços de créditos giravam em torno de US$ 10 a US$ 12, e agora caíram cerca de 60%, passeando pela faixa de US$ 4,80.
A crise não é apenas financeira: há uma preocupação crescente com a qualidade e integridade dos ativos, fazendo com que novos projetos se tornem mais difíceis de serem lançados. As empresas requerem garantias de que os créditos realmente representam reduções de emissões que são reais, verificáveis e permanentes.
Diante dessa situação, a Moss se viu obrigada a rever seu modelo de negócios. Desde 2022, a empresa deixou de emitir novos tokens e mudou sua estratégia para se concentrar no desenvolvimento técnico de projetos de carbono.
Controvérsias e mudanças
Recentemente, a Moss se viu no olho de uma polêmica quando surgiu uma denúncia contra Ricardo Stoppe Jr., conhecido como “Rei do Carbono”, acusado de atividades ilegais na Amazônia. A Moss tinha uma parceria no passado com ele, mas Rossetto destaca que esse relacionamento cessou há mais de um ano e era limitado a apenas um projeto. Ele afirma que a reputação do empresário não afeta as operações atuais da companhia.
Nova fase de reestruturação
Rossetto informa que a Moss passou por uma reestruturação significativa desde 2022. A liderança da empresa foi reformulada, e agora ela se posiciona como uma climatech focada exclusivamente em projetos ambientais de longo prazo. Para isso, sua presença nas redes sociais foi reduzida, refletindo uma nova abordagem mais técnica e institucional.
“Estamos em uma fase de reposicionamento. Mantemos projetos ativos e registrados no sistema da Verra, com alguns em processo de certificação e novos créditos sendo emitidos”, explica o CEO. No entanto, a Moss optou por não comentar sobre suas parcerias atuais devido a cláusulas de confidencialidade.
E o futuro?
Mesmo com o sumiço e a desvalorização do token, a Moss garante que sua história não termina aqui. Luis Felipe Adaime, o fundador, continua como acionista e membro do conselho, mas se distanciou da gestão diária. Ele já foi uma figura mais visível, embora agora siga um caminho menos exposto.
Olhando para frente, fica a dúvida se a Moss conseguirá retomar a confiança do mercado após as turbulências, e se a ideia de tokenização de créditos de carbono, antes tida como revolucionária, pode realmente mostrar o seu valor.